Você segurou minha cabeça firme, apontando seus olhos de
fogo bem dentro dos meus. Foi quando tudo me ardeu, e nos meus olhos desceram
aquelas lágrimas fumegantes que evaporaram no meu rosto como uma gota de água
na chapa quente do fogão. Meu rosto queimava, e no meu pescoço escorriam gotas
de suor. Foi uma sensação incrível! Mas eu ainda estava confusa. Não entendia
de onde vinha aquele fogo. Seria do meu ódio ou da minha paixão. E rezava,
clamava no intimo do meu cérebro que ainda fosse paixão. Ah, há Tanto tempo não
experimentava aquela sensação. E você me olhava tão firme, tão intenso. E eu lá,
desejando que você não falasse nada só pra não estragar aquele momento onde eu
estava sentindo algo, quando aquela dormência estava desaparecendo. Aquela dormência
que andava me reprimindo, me travando. Ai eu descobri que o fervor era dos
dois. Era o meu ódio e minha paixão. Restava a mim escolher qual prevaleceria.
Os seus olhos continuaram me dominando por alguns minutos, e depois você disse:
“Você pode! Eu sei que pode lembrar-se do que amava em mim. Você ainda pode me
amar da mesma forma que me amou há alguns anos atrás. Eu sei que você pode
deixar o passado de lado e construir um futuro comigo. Está na hora, meu amor.
Já esta na hora de destruir essas ruínas do passado e construir nosso castelo.”
Deu vontade de rir ao ouvir isso. Você, justo você, falando em futuro. Em construir
castelos. Que bom que você não me chamou de princesa, mas disse que queria me
tornar sua rainha. “As princesinhas sem graça, sem sal, ficaram pra trás. Já não
me chamam a atenção. Decidi enfim, dedicar meu tempo a minha rainha, que sempre
reinou em todos os órgãos do meu corpo. Aquela que sempre expulsava as pseudo-princesinhas
da minha vida, fácil, fácil. Você sempre comandou minha vida. Era só me dizer: “Cansei.”
que eu sentia calafrios, e corria, suava, lutava pra não te perder. Herikinha,
princesa agora, só a nossa filha.” Eu ri mais ainda, e tive vontade de te bater
por ser tão mentiroso. Mas de uma coisa eu sei... Aquela dormência se foi. E AI
DEUS, AI DEUS! Que vontade de te morder, te devorar, te ninar... Ai eu fiz
aquele carinho no seu cabelo que você diz ser único, e que estava extinto dos
nossos encontros. Aquele carinho no seu cabelo encaracolado e no seu queixo que
você diz que só eu sei fazer. E você por fim disse: “Topa casar comigo?” E eu,
mesmo naquele calor, não deixei minha cautela de lado e respondi: “Antes, vamos
construir nosso castelo, se é que me entende ...”
e eu até lembrei daquela música da Adele:
Eu sei que eu tenho um coração
inconstante e uma amargura,
E um olho errante e um peso em minha
cabeça.
Mas você não se lembra?
Você não se lembra?
A razão pela qual me amou antes?
Baby, por favor lembre-se de mim
mais uma vez.