sábado, 1 de setembro de 2012

Tô querendo colo colo.



Sempre que alguém me magoa, eu sinto uma saudade enorme da minha vovó. É uma falta dilacerante. Deve ser porque sempre que alguém em casa me dava bronca, eu corria pra lá. E ela me acolhia: “Tem nada não, hoje você dorme aqui”. E eu dormia agarradinha na mesma rede que ela. Ela foi a única pessoa na face da terra que NUNCA, mas é nunca mesmo, me magoou. E eu choro, mas choro com gosto, porque ela merece minhas lágrimas de saudade. Ela merece meu amor eterno. E quando eu choro me sinto em uma daquelas tardes, quando chegava no meu refúgio e ela tava lá, deitadinha com dor de cabeça (morreu com um tumor maligno no cérebro) e lendo a bíblia e eu deitava ao lado puxando conversa. E mesmo fraca, com dor de cabeça, com todo o cansaço que a doença causava, me dava toda a atenção. Nós só soubemos da doença quando ela já estava na UTI, e eu nem ao menos tive tempo de dar o meu tchau, e acho que nunca disse que a amava diretamente. Mas ela sabia, porque eu fazia questão de estar com ela até um certo tempo da minha vida. Depois, dói muito o que vou escrever agora, mas depois de um tempo eu a esqueci. Como se ela fosse eterna, e fosse ficar me esperando o tempo que fosse. E foi nos últimos dias de sua vida que eu declarei o meu amor sem dizer uma palavra sequer.... Sempre que ela chorava de dor eu chorava junto, sempre que ela não queria comer eu fazia aviãozinho, e na hora do banho quando tinha vergonha de ficar nua na frente dos outros eu a confortava e ficava nua também, mesmo com o meu corpo estando em transformação e de toda a vergonha que eu sentia dos meus primeiros pelinhos. E quando ela não conseguia dormir, deitava por baixo dela e balança a rede, assim como ela fazia comigo. Ela fez xixi em mim algumas vezes, e me olhava assustada, mas eu ria e pedia pra ela não dizer a mainha. Ás vezes eu chego a esquecer seu rosto, mas o seu cheiro não. Sempre que eu sinto aquele cheirinho de lavanda e o cheirinho de carne assada na brasa, me dá um frio na barriga e por alguns segundos é como se nada tivesse mudado. É como se ela ainda estivesse aqui, e que eu vou chegar naquela mesma casa com cheiro de óleo de peroba e vou encontrá-la deitada, lendo a bíblia.
“Vovó, ele me magoou, ele despedaçou meu coração, ele não fez questão.”,
“Tem nada não, hoje você dorme aqui.”
Só tenho o travesseiro para agarrar, e ele não tem cheiro de lavanda nem funga alto me fazendo acordar algumas vezes durante a noite.